quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Os bois pelos nomes

Mário Crespo é um dos maiores jornalistas portugueses da actualidade. Frontal e com grande profissionalismo. Não resisti a transcrever um texto deste Jornalista no Jornal de Notícias - rubrica Opinião.

Falem ou calem-se de vez
2008-09-01

A exigência que é feita à Dra. Manuela Ferreira Leite e ao seu PSD para que se pronunciem não é nem um capricho de comentadores sádicos nem uma estratégia dos media alcoviteiros, ansiosos por provocar uma zaragata partidária. Propor e criticar políticas é um dever do PSD que não está a ser cumprido.

Os partidos políticos são pagos com dinheiro público. Não são clubes de reflexão filosófica ou política para baronesas ou barões diletantes. Os partidos e os partidários, governo ou oposição, estão lá pagos e bem pagos porque se dispuseram a servir causas públicas. Celebraram esse contrato de confiança com os País nas eleições. Assumiram compromissos públicos em congressos onde se escolhem pessoas para ter representatividade.

Os deputados custam muito dinheiro ao erário público. Os deputados europeus custam muitíssimo. As estruturas partidárias são pagas pelos contribuintes. Os que delas usufruem e os que nelas se assumem com posturas nacionais têm por obrigação o cumprimento do contrato que aceitaram. Em Portugal há uma imensa complacência com o distanciamento entre os políticos e o eleitorado que os escolhe e lhes paga.

Um dos mais insultuosos remoques que muitos têm o ultraje de proferir com regularidade é que não precisam da política para nada. Como se estivessem na vida pública para agraciar o País com o supremo favor da sua visibilidade ou, no caso do actual PSD, invisibilidade. O País tem tolerado esta constante ofensa dos que "não precisam nada da política" embora, não havendo pais ricos, haver sempre uma pensão de reforma quase obscena do Banco de Portugal ou da Caixa Geral, uma sinecura numa Lusoponte ou um lugar interessante numa Mota-Engil ou onde quer que seja que a prescindibilidade da subvenção directa pelo serviço partidário os (e as) conduza. Isto seria inócuo se a falácia de se estar na política a fazer um favor à nação, não tivesse como consequência muito directa estes distanciamentos fruto da arrogância do quero-posso-e-mando.

Por isso é intolerável, e de facto fraudulento, o incumprimento do contrato nacional que estes silêncios e esta inacção traduzem. Manuela Ferreira Leite dirige o mais numeroso grupo partidário da oposição. É por isso obrigada a interpelar as muitas crises que se declararam nestes três meses do seu consulado. Dos colapsos económicos aos financeiros às quebras na ordem pública. Se está segura daquilo que os seus governos fizeram no passado e não sente responsabilidades no presente devia vir dizê-lo e prova-lo com argumentos.

Se o que está a ser feito está mal, force as políticas incorrectas a serem revistas. O País e o Mundo vivem momentos excepcionais. A crise da energia e da Geórgia não se compadecem com cinzentismo político em regime de part-time. Há tiros nas ruas de Lisboa. O reconhecimento do Kosovo rompeu a textura da própria União Europeia e definiu um novo Leste e um confuso Ocidente (não notou?). Os saltos no petróleo confundem os próprios operadores dos futuros de Nova York de onde vem parte dessa reforma do Banco de Portugal (acautele-se!). A resposta do PSD tem sido pedir a demissão de Ministros e remeter-se ao silêncio. Cuidem-se. Está a notar-se. Recordem-se de Churchill quando ele disse que não é possível enganar toda a gente durante todo o tempo.


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