sexta-feira, 22 de maio de 2009

O corte de direitos no trabalho

“Numa altura em que há falta de emprego, as pessoas ainda têm uma exigência estranha. Quando há tanta gente a querer qualquer emprego, as pessoas não querem trabalhar ao sábado, não aceitam o princípio do número de horas anual. E depois não é como decidir este tipo de questões em Portugal. Porque se a administração da Volkswagen decidir fechar, fecha amanhã e depois logo se vê”. Estas declarações foram ontem feitas por Belmiro de Azevedo, numa crítica à posição dos trabalhadores da empresa.

E o “Diário Económico” escreve hoje que o Governo está fortemente preocupado" com a "inflexibilidade" da Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa, citando fonte governamental não identificada.

Para António Chora, a preocupação justifica-se na medida da importância da empresa para a economia nacional. E garante que a Comissão de Trabalhadores não foi contactada por qualquer entidade ou responsável governamental no âmbito destas negociações."

Estas notícias vêm hoje no Jornal de negócios Online. Continuam cirurgicamente a recolher as opiniões de "quem interessa para o momento" procurando alterar a realidade dos factos na opinião pública. Em vez de se elucidar, baralham ou modelam a opinião pública conforme o caso. Se dá na TV ou sai no jornal é porque é verdade...

Mas o facto real é que por cada trabalhador que sai existem 30 à porta na tentativa de arranjar emprego e qualquer coisa é melhor que nada. Isto é verdade. É também mais que evidente que a VW pode fechar a fábrica em Portugal quando quiser e entender porque ao fim de contas a fábrica pertence-lhes. O que é triste é que tenhamos um governo que permita que se construam fábricas destas, baseadas num modelo de baixos salários e com grandes vantagens fiscais, não para o país mas para os estrangeiros que normalmente são os donos das mesmas, anunciando aos jornais e à rádio, com pompa e circunstância, que se vão criar mais 1.500 ou 2.000 postos de trabalho.

E os políticos vão fazendo a festa até que chega aquele dia fatídico em que um novo projecto - no caso da Autoeuropa um novo modelo - tem de ser construído. E aí toda a gente começa a temer que o novo modelo não seja entregue a esta fábrica nacional. Não se pense que tudo é feito por acaso. São feitas contas rigorosas, na fábrica mãe, sobre todo o processo de fabrico e inclusivamente o tempo de vida de toda a fábrica ou linha de montagem. A base de todo o processo é baseado no tempo de vida útil das máquinas. Como a concorrência é enorme as margens de lucro têm de ser mínimas para que o produto seja atractivo. Quando um modelo está na linha de montagem já existe um outro a ser desenhado e testado algures por esse mundo fora noutra fábrica ou laboratório - nas mesmas condições da Autoeuropa.

Se estas fábricas são assim tão atractivas porque é que esses senhores nunca as fazem no próprio país e porquê? Seria de todo vantajoso criar 1.500 ou 2.000 postos de trabalho em "casa" - basta ver as notícias e vemos que também lá também existe desemprego. Então porque não as criam? É simples - nos seus países não são permitidas. Sabem muito bem que estas linhas de montagem têm uma duração viável economicamente de somente alguns anos, deixando depois de ser competitivas no mercado, pelo que como consequência podem ter de encerrar. Cada linha de montagem é feita somente para um determinado modelo, seja um carro ou um chip, custando muito dinheiro alterar/mudar maquinarias nas linhas de montagem daí ser mais viável equacionar toda a operação. Não tenhamos ilusões porque este tipo de negócio não se compadece com desempregos ou com trabalhadores. Os administradores são sempre estrangeiros em número de 3 ou 4 e só respondem perante a fábrica mãe e, em caso de fecho, são transferidos para outro país ou fábrica, onde o modelo de gestão continua.

Este modelo de fábrica na Alemanha, por exemplo, não é permitido pois não ficaria muito bem escravizarem os seus compatriotas. Por isso, como gafanhotos, avançam para os países onde não existe praticamente indústria própria e onde os seus administradores (governo) permitem este tipo de exploração de mão-de-obra em troca do protagonismo político de ocasião. Por outras palavras, somos vendidos todos os dias pelos nossos "administradores" que sabem muito bem o que estão fazendo.

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