terça-feira, 21 de junho de 2011

Textos soltos

- E então sempre quer ver como se faz o vinho?

Hummm, pensei, até que seria interessante. Claro que tinha uma ideia de como seria mas na realidade nunca o havia presenciado.

- E porque não? - disse enquanto avançava com ar decidido pelo caminho estreito até uma loja escura. Era ali que estava o lagar. O tecto era todo em madeira, negro e muito antigo, com grandes traves castanho escuras corroídas pelo tempo. Grandes teias de aranha onde se podiam ver os esqueletos dos aranhiços anciães. Entrei receoso até os olhos se acostumarem à escuridão pois, para além da pouca luz que entrava pela porta, só havia uma lâmpada no tecto coberta por pó e que dava uma luz fraca e amarela.

O lagar era antigo. Muito antigo. Inicialmente havia sido construído todo com pedras agora parcialmente cobertas por cimento. Tinha o feitio de um poço. Ao fundo já vi o famoso fuso todo em madeira mas com sinais de muitos remendos. Em baixo uma espécie de saco com pedras grandes faziam o contrapeso (?). Pormenores, escondidos pelo escuro da loja iam pouco a pouco se revelando, magicamente, aos meus olhos enquanto caminhava lentamente num chão de pedra completamente irregular. Ao fundo grandes pipas de madeira e uns funis esquisitos em metal. Algumas mangueiras penduradas e amarradas toscamente com arames enferrujados pendiam das paredes. Cordas velhas com nós e desfiadas nas pontas. À direita, meio escondido e encostado na parede, um banco de madeira com três pés. Tudo muito velho e gasto. Todas aquelas coisas pertenciam ali.

E respirei profundamente aquele ar húmido, absorvendo.

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