quinta-feira, 17 de junho de 2010

Ora bem

Com este extraordinário título um extraordinário post no blog nao passa d'oje :

"METAM O PATRIOTISMO E A VUVUZELA NO SÍTIO ONDE O SOL NÃO BRILHA

Anti-futebol convicta, faço disso religião. Tal como à religião à séria apenas concedo alguns minutos da minha atenção dispersos por momentos particulares (casamentos e baptizados quando associados a comida e bebida, situações de aperto nas quais é preciso lançar mão de todos os argumentos e funerais porque não há como escapar...) também ao futebol dedico raras e pouco honrosas excepções. No resto do tempo tenho fobia a conversas sobre futebol, acho os adeptos dos clubes uma espécie de upgrade dos troll (mal sucedida) e não consigo, de todo, compreender esse fenómeno do "nós". Nós ganhámos, nós jogámos melhor, nós vamos ser campeões. Muito havia por dizer, muita discussão se geraria se, de facto, alguém lesse alguma coisa do que escrevo. Não é o caso.

O que me faz dedicar alguns minutos do meu precioso tempo é o patriotismo primário que se gera na sequência dos jogos e à volta dos jogadores da selecção nacional (panisgamente chamados de "Navegadores"!...). Podíamos começar já a questionar o patriotismo na equipa, que conta com um conjunto de jogadores que, tendo nacionalidade portuguesa, não são verdadeiramente portugueses. Não têm tradição de usar peúga branca com sapato de verniz, nunca palitaram os dentes com o mesmo mindinho com que coçaram a micose entrepernas, não têm filhas chamadas sónia vánessa, não se queixam que o vizinho é um porcalhão e depois atiram com o maço de tabaco pela janela do carro. Os seus pais também não; os pais dos seus pais também não. Para mim seria condição incontornável, mas adiante que atrás vem gente...

Súbita e muito saloiamente, toda a gente é invadida por uma necessidade imperiosa de ser português, de desfraldar bandeiras, de berrar nas p**as das vuvuzelas em nome de Portugal! Portugal é que é, Portugal vai ganhar, temos o melhor do mundo (novamente o "temos", reparem bem na apropriação) e toca de aproveitar que Portugal joga às três da tarde para fechar o escritório à uma, almoçar longamente, ficar a fazer ronha ali junto ao portão! E eis que, patrioticamente, às duas da tarde, há meia dúzia de mamíferos a trabalhar que nem cães danados enquanto os outros 110 se puseram a andar de fininho em direcção à televisão mais próxima para só voltar... amanhã. E amanhã bem tarde. E se for! Porque amanhã é dia de greve dos comboios, de maneira que os mesmos mamíferos que hoje saíram às duas da tarde amanhã chegam às onze e saem outra vez às duas (para apanhar os alternativos...)

Esses mesmos mamíferos que nas duas últimas semanas fizeram dois aquedutos, foram os mesmos que hoje me disseram com ar de superioridade ariana "Não és nada patriota...", enquanto eu, talvez pouco patrioticamente, fazia a minha parte para levar o país para os píncaros da produtividade.

Assim sendo, agradeço a esses filhos da p*** e a todos os portugueses que hoje não trabalharam para ver a selecção, o favor de me enviarem um cheque no valor de 372, 83€ para eu pagar (muito pouco patrioticamente) o meu IRS. Obrigada."