segunda-feira, 21 de julho de 2008

Chocos com tinta

O ditado que diz que estamos sempre a aprender e é verdade sim senhor.

A gastronomia portuguesa é fantástica. Eu explico melhor. A gastronomia portuguesa é fantasticamente fantástica. Este fim de semana provei uma autêntica iguaria: chocos com tinta. Não é com tinta de água claro mas sim com a própria tinta do animalejo. O bicho parece que é de maus fígados e tem no interior uma tinta negra. Mas passemos adiante.

O modo de preparação é importante porque simplesmente não existe. Agarra-se no gajo bem firme (o choco claro), porque é meio escorregadio de natureza, e retiramos um tentáculo que ele tem – garanto que não sente nada pois já está morto. Este tentáculo é fácil de reconhecer uma vez que costuma ser maior que os outros e segundo alguém me explicou tem algo a ver com o modo como o animal se alimenta, ou melhor, se alimentou até alguém lhe pôr as patorras em cima.

Ora bem, fóra com esta parte de ciências da natureza. Depois de retirarmos este apêndice (gostei desta), o animalejo está pronto para colocar numa daquelas grades de barbecue – com o carvãozito a arder por baixo e tudo. Depois acompanha uma cervejita fresquinha enquanto se encetam conversas soltas versando literatura e outras coisas assim simples e mundanas.

Convém nunca perder o bicharoco de vista, não que exista o problema do mesmo escapar mas porque não se deve deixa-lo estorricar demasiado. Ter o cuidado de virar o dito cujo ao contrario, usando um utensílio de cozinha ou à boa maneira portuguesa – com os dedos. Se aquecer demasiado pode metê-los também na boca para arrefecer. Não faz mal que não morre por isso.

Ahh é verdade. Convém deitar um pouco de sal grosso nos bichos. Sempre lhes dá mais sabor. Um "petit rien". Depois de assadito, ganha uma coloração esbranquiçada e salpicada aqui e acolá por umas manchinhas pretas. Não é fígado não senhor. Não tem nada a ver com a saúde do animal. É a tal tinta preta que falei no início deste post gastronómico que com o calor se espalhou harmoniosamente pelo corpanzil do gajo.

Poderá o dito cujo ser consumido imediatamente mas há quem prefira lhe acrescentar um molhito. Coisa simples. Azeite, alho, pimenta – tudo ao molho e o gajo aos bocados, cortado e estripado, molhado na molhanga...

Vão ver que é delicioso. Ahhh já me esquecia. Foi a minha amiga Graça Queiroz (acho que se escreve com Z ou será com S ?), não sei. Foi ela que me ensinou a confeccionar este maravilhoso pitéu que vai muito bem com uma cervejita fresquinha ou mesmo com um vinho verde porreiro.


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