quarta-feira, 21 de abril de 2010

Músicos da Madeira

Algumas das pessoas a que me refiro em seguida já faleceram. Paz às suas almas. No entanto facto de terem sido levadas não escamoteia a verdade dos factos. Os outros ainda por aqui andam como eu...

Quero deixar aqui também de que não existe nenhum JAZZ MADEIRENSE. Só existe um Jazz que não tem país nem fronteiras, ponto final. Não se pode chamar de GRANDE MÚSICO DE JAZZ a alguém que toca umas peças de vez em quando colocando-o na mesma craveira de outros verdadeiros GRANDES MÚSICOS E COMPOSITORES DE JAZZ. Esta nossa mania de termos um pouco de tudo mas sempre numa classificação de bom a máximo, único no género tanto no mundo ou na Europa, ou de sermos o tal povo superior só nos fica mal. E é ridícula!

Existe o bailinho da Madeira, o da Ponta do Sol e outros folclores regionais. Isso sim é nosso e é genuinamente madeirense. O resto da música vem de fora e não inventámos nada.

Por isso digo que: BASTA! Chega de homenagens a supostos GRANDES MÚSICOS DE JAZZ da Ilha da Lenha. Chega de tretas como a que a RTP inventou chamada de "Os nossos hotéis" ou "velhos hotéis" que supostamente homenagearia os muitos músicos madeirenses que trabalharam na hotelaria. Chega de ouvir falar dos "Demónios Negros" como se fossem uma verdadeira banda de éxitos. Chega de mentiras sobre "grandes" que nunca foram.

LJ - apresentado como um dos músicos dos "Demónios Negros" uma banda que nunca saiu da garagem que a viu nascer e morrer. Simplesmente passaram ao lado da cena musical. Partiu para Inglaterra onde teve um estúdio que supostamente lançou trabalhos de 2 ou 3 artistas famosos e ficou logo com o "cartão de autoridade musical". Fez parte do juri de um concurso da SIC onde largava uns petardos nos concorrentes. Vi-o actuar no palco do Jardim Municipal onde interpretou "yesterday" dos Beatles. A pior interpretação de sempre desse tema - na minha opinião. Com a ajuda de um computador Macintosh para "ler" a letra foi um espectáculo horrível de se ver e ouvir. Devia ter vergonha na cara antes de abrir a boca para falar nos outros quanto mais julgá-los.

PE - levado sem misericórdia por uma terrível doença incurável foi homenageado como um grande pianista de jazz que na realidade nunca foi. Nos últimos anos leccionou no Conservatório de Música diversos cursos de Jazz mas isso nunca o fez verdadeiramente um músico de jazz - muito menos grande. Era um músico simplesmente. Conheci-o e falei com ele por diversas vezes pois tocava piano no Jardim do Sol - Caniço e mesmo no Hotel Girassol onde substituía o LV. O pai havia ensinado o PE a tocar piano e era uma pessoa muito educada, amável e de bom trato. Um verdadeiro gentleman.

Os "nossos hoteis" ou "velhos hotéis" foi uma falácia da RTP Madeira. O pianista da banda apresentada, nunca tocou como profissional em hotel nenhum. A MP nunca cantou em hotel nenhum como profissional. O A na bateria e o VS tocaram sim nos hotéis madeirenses - esses 2 foram músicos de hotel efectivamente. O A ainda o faz regularmente. El Presidente tocou numa banda no Liceu do Funchal e mesmo assim esporadicamente. Haviam 3 bandas na altura. Nunca foi músico profissional de hotel nem aqui nem na China. A MP sempre esteve ligada ao Conservatório das Artes - nunca foi cantora nem executante profissional muito menos em hotéis. Poderia ter aparecido de quando em vez no palco dum hotel mas de resto mais nada.

JS - a quem vão homenagear no próximo festival Jazz da Quinta Magnólia e de quem falam no DN de hoje como sendo um grande baterista de Jazz. O João era conhecido como João o Gordo - não como o "papa" referido no DN de hoje. Eu explico melhor. Na altura após a 4ª Classe os miúdos iam obrigatoriamente durante 2 anos para a Escola Industrial e Comercial do Funchal. Após isso e se desejassem podiam mudar para o Liceu Jaime Moniz - que foi o meu caso - ou continuar num curso de Comércio ou Indústria nessa escola. Foi assim que conheci o João o Gordo. Existia um velho prédio de cor verde desbotado, situado à direita da entrada do lado da Rua Pedro José de Ornelas da referida escola, ao lado da Inspecção de Trabalho. Situado no primeiro andar (subíamos uma escada pelo exterior), ficava uma sala velha com um soalho de madeira ainda mais velha que rangia por baixo dos sapatos. Aí estava um velho piano vertical e uma bateria. João o Gordo era frequentador do lugar onde tocava piano e bateria. Que me desculpem mas a descrição no DN "Era na vida como era na bateria - carinhoso, cheio de 'classe', completamente altruísta: um verdadeiro 'gentleman'" é totalmente falaciosa. Na altura o João o Gordo era impulsivo, com um ar ameaçador, sempre pronto a dar respostas bruscas. Nunca gostei dele. A primeira impressão que ficou até hoje foi totalmente negativa. Nunca consegui ultrapassar a primeira impressão mas também nunca fiz por isso. Sobre os seus supostos dons de baterista não posso opinar porque a partir desse primeiro encontro foi sempre personagem que passei a evitar pela vida fora. Rigorosamente...

A - talvez o mais conhecido pianista madeirense vive actualmente na Inglaterra onde continua a tocar tanto quanto sei. Lembro-me que era um dos donos do Clube de Jazz na Zona Velha da Cidade, juntamente com o G - saxofonista e F - guitarrista. Fiquei sempre com a impressão de que era do género intratável e arrogante. O Clube de Jazz reunia alguns músicos que após saírem dos hotéis lá iam ouvir e tocar um pouco. A passou pelo conhecido Festival Jazz de Cascais. Foi apelidado de "bom entertainer de hotel" por críticos do Festival de Jazz de Cascais que escreviam no Jornal Sete e era especialista em embaraçar jovens pianistas que tentavam tocar no referido clube. Aparecia sempre de seguida após acabarem a sua actuação, demonstrando grande virtuosismo nas escalas swingueiras e enxovalhando literalmente os que tinham tocado antes. Um erro comum era tentar imitá-lo nos standards de swing e mesmo na bossa nova que dominava a 98%. Lembro-me de uma banda, na altura um trio, composto por V, O e A que foram convidados a tocar no clube. No entanto e como já sabiam o que a casa gastava, não tocaram standards de jazz. Trocaram-nos por temas dos Yellow Jackets, Djavan e Shakatak que dominavam quase na perfeição... os tais 98%. A personagem ao se ver destronada do estrelato ficou fula afirmando que nunca mais aquele tipo de música seria interpretada no "seu clube". Tempos depois os poucos clientes fartos quiçá do feitio do clube foram abandonando o mesmo até as portas se fecharem. Até hoje está fechado.

Para terminar deixo aqui o meu sincero obrigado aos editores do livro NOITES DA MADEIRA, ao Vítor Sardinha e ao Zé Camacho pelo trabalho profissional e verdadeiro que realizaram sobre os Músicos da Madeira - os verdadeiros.

Talvez para a próxima volte a este tema. Sinceramente não sei.

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