sexta-feira, 3 de abril de 2009

O roubo da Humanidade

Todo o sistema em que alicerçamos os nossos projetos de vida está hoje posto em causa por razões que são conhecidas e que, no essencial, assentam em processos fraudulentos sem que os estados tenham a coragem de os enfrentar como tal e, ao invés, tudo preparam para que seja a Humanidade (que é o conjunto de gente séria e trabalhadora, que produz riqueza) a pagar as vigarices que estão na raiz da crise.

Um desgraçado que roube uma carteira em qualquer estação de metro da Europa ou dos Estados Unidos é preso.

Os responsáveis pela apropriação ilegal de biliões de dólares que pertenciam aos que, de boa fé, acreditavam no respeito pelas leis e na supervisão, estão à partida absolvidos por uma cambada de dirigentes corruptos, que têm como único desígnio enganar-nos e ludibriar a Humanidade, para encobrir os ladrões.

A intervenção que essa canalha faz ao nível do sistema global – contra todas as regras que andaram a apregoar durante dezenas de anos – pode conduzir-nos a nós às futuras gerações a uma situação de miséria, enquanto os que se locupletaram às custa da boa fé dos demais guardarão para si o produto da apropriação indevida.

O que todos tentam hoje – começando por Obama Brown na cimeira do G-20 – é mudar as regras a meio do jogo, branqueando as vigarices que durante os últimos anos nos conduziram a esta situação.

Os auditores que encobriram as situações que permitiram o logro, continua a ser os auditores mais respeitados, quando, pura e simplesmente, deveriam ser irradiados do sistema.

A lógica é «quem roubou roubou… vamos pensar no futuro» deixando os ladrões com o que roubaram.

Só que o produto do roubo é tão grande, que ficarão desgraçadas, arruinadas, infelizes, centenas de milhar de famílias. E continuam a mentir-nos, a enganar-nos todos os dias, a usar-nos todos os dias. Quando, graças à evolução tecnológica é possível apurar tudo e responsabilizar quem tem que ser responsabilizado, garantindo previamente que o produto dos roubos pode ser preservado.

A questão da supervisão e a questão dos offshores são importantes.Mas muito mais importante do que regular o futuro é encontrar e preservar o que foi indevidamente apropriado no passado recente.

A solução da crise passa por aí. Por obrigar os que enriqueceram indevidamente a devolver o que roubaram. Também nessa matéria é válido o princípio de Lavoisier, que diz, para quem não se lembra que «na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma».

O sistema faliu. E a maioria destes senhores que ouvimos diariamente nas televisões estão a enganar-nos, encobrindo factos, a beneficio de uma estratégia de proteção dos ladrões.

O que está a ocorrer – com a omissão de perseguição dos responsáveis pela crise – é um crime contra a Humanidade, muito mais grave que qualquer dos massacres dos últimos vinte anos.

Mais grave do que o passado é que se continue a enganar as pessoas de boa fé, influenciando-as a jogar no mesmo casino.

Lastimável é que nesta Europa podre e sem lideres, vergada à liderança afirmada por Obama, só a França, encostada no Brasil, e a Alemanha, mais pragmática mas mais discreta, tomem posição perante a palhaçada da reunião de Londres.

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